O brasileiro não se interessa por quadrinho nacional

Repassando aqui um depoimento do Sergio Peixoto Silva ( Revista Animax ), um dos principais editores nacionais de anime e manga, sobre os quadrinhos Brasileiros, o Texto é longo, mas peço que leiam.
Sergio Peixoto Silva é editor/redator Free-lance, palestrante e Criador/Organizador de eventos, especialmente na área de mangás e animes. 
"Posto a seguir alguns dos motivos para o quadrinho nacional, seja em que estilo for desenhado, não dar certo por aqui. É uma série de observações e vivências pessoais dos mais de 20 anos que trabalho como editor, e são totalme...nte passíveis de serem aceitas sou não por quem lê. Não tenho nenhuma pretensão de apresentar soluções milagrosas para reverter a situação. Estou apenas relatando e já aviso que o texto é loongo!

- A nossa cultura – sejamos sinceros: somos um povo acomodado, conformado, egoísta e invejoso. Seguimos sempre a lei do mínimo esforço e do “jeitinho brasileiro” para ganhar o máximo trabalhando o mínimo. E quando alguém consegue se sobressair um pouco mais é imediatamente invejado e mal falado, e surgem os invejosos conspirando e agindo para prejudicá-lo. Parece que vencer na vida por esforço e talento próprio neste país é um crime. Jô Soares definiu isso dizendo “Sucesso no Brasil é ofensa pessoal”! Há muitas pessoas que gastam mais tempo e energia puxando os outros para a lama do que se esforçando sair dela. Meu ex-sócio/amigo foi um exemplo típico e, infelizmente, não o único.

- Desinteresse Econômico das Editoras – Quadrinhos estrangeiros são oferecidos às editoras brasileiras por um preço baixíssimo, já que deram todo o lucro necessário em seus países de origem. É o brasileiro aplicando a lei do lucro imediato com pouco esforço. Com isso, fica impossível surgirem quadrinhos nacionais de boa qualidade, pois nenhuma editora está disposta a pagar o valor justo por uma página de HQ desenhada aqui. Isso, em longo prazo, matou GERAÇÕES INTEIRAS de desenhistas brasileiros que, sem oportunidade, migraram para outras áreas ou simplesmente desistiram de desenhar. Os mais persistentes e talentosos conquistaram seu espaço de trabalho no exterior, já que aqui não tiveram nenhum reconhecimento – quando não foram caçoados e escorraçados pelos leitores “esclarecidos”.

- Falta de Preparação Profissional – Sem editoras investindo em material nacional por absoluto comodismo, não temos escolas de desenho para quadrinhos com a mesma qualidade das estrangeiras. Oh, sim, nós temos algumas escolas! Mas perto do que está disponível na Europa, EUA e Japão, é quase nada. Uma coisa puxa a outra: sem desenhistas de quadrinhos, ficamos sem bons professores de desenho em quantidade e experiência DE FATO na área editorial. Temos muitos desenhistas de quadrinhos “teóricos” que nunca publicaram nada e dão aula por aí, e a-do-ram dizer como o mercado DEVERIA funcionar... no ponto de vista deles! E quando alguém publica qualquer coisa, mordem a fronha de inveja e ficam XINGANDO MUITO NO TWITTER!

- Desinteresse e Inveja dos Leitores Brasileiros – Depois de quase 60 anos dominando o mercado de quadrinhos do Brasil, as editoras estrangeiras podem ficar tranqüilas. Elas venceram! O brasileiro não se interessa nem um pouco por material nacional, pois cresceu lendo Marvel, DC e Disney – e ficou condicionado a gostar deste tipo de quadrinho a ponto de acreditar cegamente que qualquer coisa feita aqui “não presta”. Como um desenhista brasileiro sem preparo por falta de boas escolas, e sem oportunidades pode competir com as editoras norte-americanas que tem o apoio cego dos nossos leitores? E quando um brasileiro publica algo, todos se acham no direito de PROCURAR DEFEITOS PARA FALAR MAL. Pois quem é esse “quadrinhista brasileiro metido”, querendo fazer algo melhor que os norte-americanos, os mais fodões do mundo? Porque ELE pode publicar e ficar “famoso” e não eu? Isso não pode! Temos que falar mal! Ele não pode dar certo onde nós falhamos por não termos coragem ou talento para tentar! Que ele fique na lama conosco! Para um quadrinhista brasileiro superar este sistema medonho, ele teria que desenhar MELHOR e criar estórias MELHORES AINDA, contar com o apoio de uma grande editora nacional, mais a simpatia e apoio dos leitores brasileiros para ter uma mínima chance de dar certo! Sonhar todo mundo pode né?

- Inveja dos Próprios Editores – Mesmo publicando uma revista que vende bem e dá lucro, conheci vários donos de editora que ficam com inveja da “fama” do editor/redator/desenhista . Note bem: o sujeito está LUCRANDO com o trabalho do artista, e mesmo assim o inveja a ponto de “pisotear” (ou humilhar, ou esnobar, ou desprezar – use o termo que mais lhe agrada) quem está lhe ajudando a pagar as contas! Falo de experiência própria, acreditem. E a maioria dos editores NÃO LÊ O QUE PUBLICA – só conheci até hoje três que faziam isso, e todos estão firmes no mercado até hoje! As outras duas dúzias com quem trabalhei só querem saber de vender papel colorido. Não tem nenhum interesse no conteúdo de suas revistas – querem saber apenas o quanto elas vendem. E se interessam menos ainda em projetos de longo prazo. A maioria maciça dos editores só quer saber de lucro rápido, imediato e com pouco ou nenhum investimento. Portanto, porque investir numa revista de HQ/Mangá Nacional, que vai dar um monte de trabalho e pouco retorno, já que o público não se interessa em comprar? Jogo duro, gente, jogo duro!"

Comentários

yapyap disse…
complicado...
Tem muita gente tentando reverter esse quadro.
Mas vai ser uma luta eterna. Fico pensando com o Mauricio de Sousa sobreviveu e conseguiu sobressair no mercado dos quadrinhos.
Anônimo disse…
espero que isso um dia mude :/
O Brasil tem gente que desenha pra caramba só não há espaço...
o povo brasileiro é muito ignorante, se o cara não chegar desenhando um one piece
ai da vida que venda milhões de exemplares...vai pro ralo.
Fazer o que pais formado em menos de 200 anos da nisso como li em outro blog é a
"sindrome do espelho".
Cabe agora os desenhista daqui criarem histórias e artes "overpower", enquanto trabalham em outro ramo para sobreviver e assim quem sabe alguma editora no exterior se interesse.

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